A redescoberta da Igreja como Mistério, leva à superação da visão que foi se afirmando e consolidando a partir do Concílio de Trento – concluído em 1563 – a qual entendia a Igreja como sociedade perfeita. Dizendo que a Igreja é em primeiro lugar Mistério, o Concílio chama a atenção para o fato que as raízes da Igreja, bem como seu dinamismo estão no próprio mistério da Trindade. É o mistério de Deus, portanto, o ponto de referência por excelência da Igreja.

Outro conceito do qual a Lumen Gentium se serve para apresentar a Igreja é Povo de Deus. Esta concepção é fundamental para compreender a dignidade de todos os batizados. Antes de qualquer distinção de funções e ministério, está a unidade e a comunhão de todos os batizados. Godoy insistiu sobre o fato que este conceito perdeu bastante força a partir do Sínodo de 1985, mas que ele precisa ser recuperado para evitar uma excessiva centralização na vida da Igreja, um processo de universalidade que compromete as particularidades e autonomia das Igrejas locais. A concepção de uma igual dignidade na diversidade de funções e ministérios traz uma nova compreensão sobre a hierarquia. A autoridade na Igreja passa a ser vista a partir de sua ministerialidade. A missão da Igreja é servir o Povo de Deus e também nesse sentido ela é presidida por seus pastores.

Outra grande contribuição da Lumen Gentium é a redescoberta da dignidade laical. Consagrado pelo batismo, o leigo é um membro pleno da Igreja e como tal participa da vocação à santidade. Supera-se a visão de que apenas alguns seriam chamados à santidade de vida. Recuperando o conceito de que a santidade consiste na vivência da caridade, o Concilio coloca as bases para falar da vocação universal à santidade. Tal santidade implica em assumir com amor a história da humanidade onde o cristão tem como missão o ser sal e luz. Nesta caminhada, rumo à terra prometida, a Igreja conta com a presença de Maria, companheira e ao mesmo tempo modelo de discipulado.