Na manhã de 9 de outubro de 2018, a Educação Vicentina - Província de Curitiba, a Faculdade Vicentina (FAVI) e a Casa de Acolhida São José promoveram o Seminário Conectando Solidariedade, com o tema “Educação e pessoas em situação de rua”. A atividade aconteceu nas dependências da FAVI, em Curitiba (PR). E faz parte do projeto pedagógico-pastoral Conectando Relações, dinamizado pela Educação Vicentina na Província de Curitiba neste ano.

Além dos integrantes da Casa de Acolhida São José, estavam presentes: participantes de movimentos sociais relacionados à população em situação de rua, alunos e professores da FAVI e estudantes no 9º ano da Escola Vicentina Nossa Senhora das Mercês, de Curitiba; da Escola Vicentina Sagrado Coração de Jesus, de Araucária; e do Colégio Vicentino São José, de Curitiba – proporcionando uma reunião de saberes e experiências entre a comunidade, a educação básica e o ensino superior.

O que nos une é o amor

IMG 7749“Olhar para o próximo é a essência do nosso carisma vicentino, que perpassa as dimensões humana, social e educacional, na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e colaborativa”, lembrou Pe. Ilson Luís Hubner, diretor geral da Faculdade Vicentina, na abertura do encontro.

Ao contar como foi o processo de organização do Seminário, Ir. Suzane Tizott disse: “Começou como uma proposta pequena, mas chegamos aqui com mais de 100 pessoas. Mais que realizar um evento, estamos aqui para pensar uma situação. (...) O que nos une é o verbo amor”.

“Motivados/as pelo carisma comum que compartilhamos – o carisma vicentino – a proposta foi relevante à medida que oportunizou um encontro proativo entre as novas gerações e um dos grupos mais vulnerabilizados da sociedade atual, que é a população em situação de rua. Isso expressa um elemento essencial do carisma, que é a constatação de que o serviço aos pobres não é um discurso, mas uma aproximação real dos irmãos/ãs cuja pobreza tem nome, endereço, causas e consequências. Sensibilizar para a alteridade solidária é uma das vias irrenunciáveis da missão vicentina hoje, particularmente no que concerne à educação”, explica Irmã Raquel de Fátima Colet, uma das organizadoras do Seminário.

Panorama nacional da população em situação de rua

Para abordar o olhar sociológico sobre o tema, professor André Langer, doutor em Sociologia que integra o corpo docente da FAVI, apresentou um panorama nacional sobre a população em situação de rua. De acordo com um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do ano passado, estima-se que atualmente mais de 100 mil pessoas estejam nesta situação no Brasil – e este número pode ser ainda maior, devido à dificuldade de contabilizar e acompanhar o crescimento deste grupo anualmente em números reais. O professor também falou sobre expressões utilizadas para se referir às pessoas que estão nesta situação e o preconceito que carregam, sobre estarem economicamente e socialmente marginalizadas, sobre o perigo de se associar pobreza a valores sociais e sobre a violência (física e simbólica) a que estão expostas diariamente. “A simples existência de pessoas em situação de rua é uma prova de nossa insensibilidade enquanto sociedade, da falta de solidariedade que ainda existe no mundo”, refletiu.

Professor Flávio Souza, da Educação Vicentina, ressaltou a importância deste assunto fazer parte de um programa pedagógico e lembrou que educar também é mobilizar para a ação. “Ninguém se mobiliza sem conhecer, sem compreender que a realidade pode ser transformada. A educação ajuda a construir mediações entre o que nós sonhamos para a sociedade e o que podemos tornar realidade”, disse. “Na educação vicentina, não fazemos as coisas para as pessoas, mas sim com as pessoas”.

IMG 7834Carlos Alberto, integrante do Movimento Nacional da População de Rua, contou sua história de vida e destacou a importância das parcerias e da participação popular, para ajudar a cobrar políticas públicas: “O que a gente quer é que os serviços públicos funcionem, que os direitos sejam respeitados. Que as pessoas tenham uma vida digna. Essas pessoas não estão na rua porque querem, alguma coisa aconteceu”.

Tomás Melo, antropólogo e integrante do Instituto Nacional de Direitos Humanos da População em Situação de Rua (INRUA), expôs como é recente a mudança na legislação relacionada à população de rua e lembrou da história do Índio Galdino, um caso que ficou mundialmente conhecido na área de direitos humanos. Também convidou os estudantes à reflexão sobre o número de desempregados no país e a dificuldade de competitividade entre uma pessoa que tem um lar para morar e outra que não tem, que já está em desvantagem.

Em seguida, todos os presentes foram convidados a participar de uma intervenção musical – com o Hino do Povo da Rua, cantado pelos frequentadores da Casa de Acolhida São José – e de um lanche de confraternização.

Experiência para a vida toda

“Destacaria o fato de ter sido um evento que foi pensado e gestado por muitas mãos, numa parceria efetiva entre os organismos envolvidos. Da parte da Educação Vicentina, o seminário foi ponto de chegada de diálogos e interações que vem acontecendo entre a comunidade educativa das Instituições Vicentinas desde abril. Os/as educandos/as dos 9º anos que participaram, por exemplo, já vêm refletindo sobre o tema há algumas semanas e certamente o retomarão em sua instituição local junto com os/as educadores/as responsáveis. Isso possibilita que a proposta também seja um ponto de partida para novos olhares e atitudes enriquecidas pela experiência feita”, complementa Ir. Raquel.

Fotos: Geovanni C. De Luca